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23 de dezembro de 2008

Jornalista atira sapato no Presidente Bush

Em uma visita à Bagdá o presidente George W. Bush quase levou um presente inesperado. Em uma entrevista coletiva junto com primeiro ministro iraquiano Nuri al-Maliki, um jornalista atirou dois sapatos e também o xingou de cachorro. Bush foi a Bagdá em um visita surpresa de despedida, já que deixa o governo em janeiro de 2009.

Este acontecimento, claro, tornou-se uma febre, não só na internet, mas também nos mais variados meios de comunicação e, obviamente, atiçou a criatividade de muitos cartunistas e humoristas que souberam aproveitar bem este momento, assim como muitos colunistas. Por isso, eu não poderia deixar essa passar. Confiram:








Também já temos disponível na rede joguinhos como “Sapatadas da Vingança” (http://charges.uol.com.br/) onde podemos praticar nossa pontaria! O final achei bem engraçado, por sinal!


E não poderia faltar as famosas charges e tirinhas...



No "Metro" desta quinta-feira, dia 18 de dezembro, foi publicado um texto de Rodrigo Leão (diretor de criação da Casa Darwin) que eu gostei muito e quero compartilhar com vocês. Confiram...


Homem-barata contra o Sapato voador
A grande pergunta desta semana é a seguinte: seria o jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi muito ruim de mira ou seria o presidente americano George W. Bush ágil como um jovem lutador de boxe mexicano?
Quando resolveu arremessar seus sapatos na cara do americano, o repórter al-Zaidi certamente considerou as conseqüências de seu ato. Talvez isso tenha abalado a sua mira. Segundo seu irmão declarou à BBC, desde o atentado (que nome se dá a um atentado com um sapato? Sapateado?) o repórter já teria ficado com as mãos e as costelas quebradas, teria sofrido hemorragia interna e teria ficado com o olho danificado pelas sistemáticas surras a que teria sido submetido na prisão (que ninguém sabe onde fica, bem ao estilo George W. Bush). Mas, convenhamos, faltou frieza. Faltou a paradinha na marca do pênalti. Faltou a malícia do craque. Muntazer al-Zaidi é o Paolo Rossi da sapatada. Quando errou a pontaria, lançou contra a parede as esperanças de todo o planeta.
Perdemos assim a chance do “grand finale” perfeito, o terceiro ato que fecharia o círculo do drama que foram estes oito anos, o atentado perfeito — à altura da dignidade que Bush emprestou ao cargo eletivo mais importante do mundo: a de uma barata.
Mas examinemos a segunda hipótese: a de que Bush, como as baratas, é realmente um ser extraordinário, um habilidoso sobrevivente, capaz de fintar qualquer ataque seja com sapato, tamanco ou inseticida em spray. Nesse caso, foi ingenuidade do repórter iraquiano imaginar, acertaria um picareta que cresceu se esquivando dos estudos e da lei, que se esquivou do alistamento obrigatório quando fugiu da Guerra do Vietnã e da recontagem auditada de votos na curiosa eleição de 2000. Ora, se tem uma coisa, a única coisa que G. W. Bush sabe fazer direito na vida é se esquivar. Como Oscar de la Hoya, que poderia ter fechado sua carreira no boxe com chave de ouro, Muntazer al-Zaidi deixa o ringue como um perdedor por ter subestimado seu adversário.
Sabemos todos que só uma condenação na corte internacional para criminosos de guerra poderia fazer justiça à Bush. Mas sabemos também que isso não vai acontecer nunca com um presidente americano. Porém, agora que Muntazer al-Zaidi deu o exemplo, não seria nada mal se por todos os lugares que passasse, pelo resto de sua vida na terra, George ‘Walker’ Bush, fosse recebido sempre com sapatadas. Sapatos de todos os tipos, tamanhos e formas sempre voando em sua direção sem nunca dar-lhe um segundo sequer de paz. O destino perfeito para essa barata que foi longe demais.

Rodrigo Leão
popprop.wordpress.com




E mais tirinha...

8 de dezembro de 2008

Estou cansado!

Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensina que Deus restaura as forças do que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista. Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.

Não, não me afadiguei com Deus ou com minha vocação. Continuo entusiasmado pelo que faço; amo o meu Deus, bem como minha família e amigos. Permaneço esperançoso. Minha fadiga nasce de outras fontes.

Canso com o discurso repetitivo e absurdo dos que mercadejam a Palavra de Deus. Já não agüento mais que se usem versículos tirados do Antigo Testamento e que se aplicavam a Israel para vender ilusões aos que lotam as igrejas em busca de alívio. Essa possibilidade mágica de reverter uma realidade cruel me deixa arrasado porque sei que é uma propaganda enganosa. Cansei com os programas de rádio em que os pastores não anunciam mais os conteúdos do evangelho; gastam o tempo alardeando as virtudes de suas próprias instituições. Causa tédio tomar conhecimento das infinitas campanhas e correntes de oração; todas visando exclusivamente encher os seus templos. Considero os amuletos evangélicos horríveis. Cansei de ter de explicar que há uma diferença brutal entre a fé bíblica e as crendices supersticiosas.

Canso com a leitura simplista que algumas correntes evangélicas fazem da realidade. Sinto-me triste quando percebo que a injustiça social é vista como uma conspiração satânica, e não como fruto de uma construção social perversa. Não consideram os séculos de preconceitos nem que existe uma economia perversa privilegiando as elites há séculos. Não agüento mais cultos de amarrar demônios ou de desfazer as maldições que pairam sobre o Brasil e o mundo.

Canso com a repetição enfadonha das teologias sem criatividade nem riqueza poética. Sinto pena dos teólogos que se contentam em reproduzir o que outros escreveram há séculos. Presos às molduras de suas escolas teológicas, não conseguem admitir que haja outros ângulos de leitura das Escrituras. Convivem com uma teologia pronta. Não enxergam sua pobreza porque acreditam que basta aprofundarem um conhecimento “científico” da Bíblia e desvendarão os mistérios de Deus. A aridez fundamentalista exaure as minhas forças.

Canso com os estereótipos pentecostais. Como é doloroso observá-los: sem uma visitação nova do Espírito Santo, buscam criar ambientes espirituais com gritos e manifestações emocionais. Não há nada mais desolador que um culto pentecostal com uma coreografia preservada, mas sem vitalidade espiritual. Cansei, inclusive, de ouvir piadas contadas pelos próprios pentecostais sobre os dons espirituais.

Cansei de ouvir relatos sobre evangelistas estrangeiros que vêm ao Brasil para soprar sobre as multidões. Fico abatido com eles porque sei que provocam que as pessoas “caiam sob o poder de Deus” para tirar fotografias ou gravar os acontecimentos e depois levantar fortunas em seus países de origem.

Canso com as perguntas que me fazem sobre a conduta cristã e o legalismo. Recebo todos os dias várias mensagens eletrônicas de gente me perguntando se pode beber vinho, usar “piercing”, fazer tatuagem, se tratar com acupuntura etc., etc. A lista é enorme e parece inexaurível. Canso com essa mentalidade pequena, que não sai das questiúnculas, que não concebe um exercício religioso mais nobre; que não pensa em grandes temas. Canso com gente que precisa de cabrestos, que não sabe ser livre e não consegue caminhar com princípios. Acho intolerável conviver com aqueles que se acomodam com uma existência sob o domínio da lei e não do amor.

Canso com os livros evangélicos traduzidos para o português. Não tanto pelas traduções mal feitas, tampouco pelos exemplos tirados do golfe ou do basebol, que nada têm a ver com a nossa realidade. Canso com os pacotes prontos e com o pragmatismo. Já não agüento mais livros com dez leis ou vinte e um passos para qualquer coisa. Não consigo entender como uma igreja tão vibrante como a brasileira precisa copiar os exemplos lá do norte, onde a abundância é tanta que os profetas denunciam o pecado da complacência entre os crentes. Cansei de ter de opinar se concordo ou não com um novo modelo de crescimento de igreja copiado e que vem sendo adotado no Brasil.

Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia sofrível e, pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento. Quão diferente do dia em que me sentei na Sala São Paulo para ouvir a música que Johann Sebastian Bach (1685-1750) compôs sobre os últimos capítulos do Evangelho de São João. Sob a batuta do maestro, subimos o Gólgota. A sala se encheu de um encanto mágico já nos primeiros acordes; fechei os olhos e me senti em um templo. O maestro era um sacerdote e nós, a platéia, uma assembléia de adoradores. Não consegui conter minhas lágrimas nos movimentos dos violinos, dos oboés e das trompas. Aquela beleza não era deste mundo. Envoltos em mistério, transcendíamos a mecânica da vida e nos transportávamos para onde Deus habita. Minhas lágrimas naquele momento também vinham com pesar pelo distanciamento estético da atual cultura evangélica, contente com tão pouca beleza.

Canso de explicar que nem todos os pastores são gananciosos e que as igrejas não existem para enriquecer sua liderança. Cansei de ter de dar satisfações todas as vezes que faço qualquer negócio em nome da igreja. Tenho de provar que nossa igreja não tem título protestado em cartório, que não é rica, e que vivemos com um orçamento apertado. Não há nada mais desgastante do que ser obrigado a explanar para parentes ou amigos não evangélicos que aquele último escândalo do jornal não representa a grande maioria dos pastores que vivem dignamente.

Canso com as vaidades religiosas. É fatigante observar os líderes que adoram cargos, posições e títulos. Desdenho os conchavos políticos que possibilitam eleições para os altos escalões denominacionais. Cansei com as vaidades acadêmicas e com os mestrados e doutorados que apenas enriquecem os currículos e geram uma soberba tola. Não suporto ouvir que mais um se auto-intitulou apóstolo.

Sei que estou cansado, entretanto, não permitirei que o meu cansaço me torne um cínico. Decidi lutar para não atrofiar o meu coração.

Por isso, opto por não participar de uma máquina religiosa que fabrica ícones. Não brigarei pelos primeiros lugares nas festas solenes patrocinadas por gente importante. Jamais oferecerei meu nome para compor a lista dos preletores de qualquer conferência. Abro mão de querer adornar meu nome com títulos de qualquer espécie. Não desejo ganhar aplausos de auditórios famosos.

Buscarei o convívio dos pequenos grupos, priorizarei fazer minhas refeições com os amigos mais queridos. Meu refúgio será ao lado de pessoas simples, pois quero aprender a valorizar os momentos despretensiosos da vida. Lerei mais poesia para entender a alma humana, mais romances para continuar sonhando e muita boa música para tornar a vida mais bonita. Desejo meditar outras vezes diante do pôr-do-sol para, em silêncio, agradecer a Deus por sua fidelidade. Quero voltar a orar no secreto do meu quarto e a ler as Escrituras como uma carta de amor de meu Pai.

Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se é o seu caso, convido-o então a mudar a sua agenda; romper com as estruturas religiosas que sugam suas energias; voltar ao primeiro amor. Jesus afirmou que não adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma. Ainda há tempo de salvar a nossa.

Soli Deo Gloria.

20 de novembro de 2008

O posicionamento da IURD sobre o aborto



No domingo, 31 de agosto de 2008, foi publicada na Folha Universal, jornal da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), uma mensagem de seu líder Bispo Edir Macedo, sobre a atual polêmica da legalização do aborto. Esta mensagem veio em complemento à reportagem sobre o debate aberto no Supremo Tribunal Federal a respeito da interrupção da gravidez em casos de anencefalia (fetos com má formação ou ausência cerebral). Nesta ocasião, o representante da IURD, bispo Carlos Macedo, declarou-se a favor do aborto de anencefálicos. A mensagem intitulada “A fé e o aborto”, traz uma análise do bispo Edir Macedo, abordando o assunto sob três pontos de vista diferentes. Indo na contra mão do que defende a esmagadora maioria das igrejas evangélicas brasileiras, a IURD, na pessoa de seu líder, é a favor da legalização do aborto (não só em casos de anencefálicos, como veremos). O que me causou maior espanto, entretanto, não foi o posicionamento favorável do bispo Edir Macedo, mas sim, a natureza de seus argumentos que quero comentar aqui.

O bispo Edir Macedo inicia sua mensagem apresentando três pontos de vista passíveis de análise, para discorrer sobre o assunto: o ponto de vista sócio-econômico, o ponto de vista da fé e o ponto de vista emocional.

Sobre o ponto de vista sócio-econômico, o bispo Edir Macedo deixa algumas questões para considerarmos, mas, infelizmente, não as responde, nem faz quaisquer comentários. São elas:

“1) Em que camada da sociedade o índice de natalidade é mais acentuado e por quê?

2) A quem interessa a multiplicação desordenada de seres humanos? Quem ganha e quem perde com isso?”


Lembrando que estamos tratando do assunto “aborto”, que relevância há o índice de natalidade, ou a “multiplicação desordenada de seres humanos”? Uma vez que o índice de natalidade é maior nas classes mais pobres da sociedade, por falta de planejamento familiar, muitas vezes, estaria o bispo Edir Macedo sugerindo que o aborto é uma opção válida como instrumento de planejamento familiar? Certa vez, fiquei estarrecido ao ler uma opinião semelhante na seção “cartas do leitor” de um jornal secular, mas deparar-me com este argumento vindo de um “bispo evangélico”, causou-me revolta e repúdio. Em minha concepção isto era, simplesmente, inimaginável.

Ainda do ponto de vista sócio-econômico, o bispo Edir Macedo argumenta:

“3) Porque muitos se mostram contrários ao aborto enquanto o promovem às ocultas?

4) Por que a mesma consciência que condena o aborto despreza as crianças geradas e criadas à revelia?”

Diante dessas acusações eu pergunto: será que a possível hipocrisia de alguns torna justa a prática do aborto? O fato de alguns (ou muitos, como apontou o bispo Edir Macedo) serem hipócritas torna a causa dos sinceros indigna de defesa? A incoerência de alguns anula a coerência dos outros? Que relevância há para a discussão o fato de alguns promoverem o aborto às ocultas, ou desprezarem as crianças carentes? Isso torna o aborto mais aceitável, ou menos pecaminoso? Certamente que não!

Do ponto de vista da fé, o bispo Edir Macedo sugeri as seguintes questões:

“1) Quais são as chances de uma criança abortada perder a Salvação da própria alma? A resposta para esta pergunta é: Nenhuma. O Senhor Jesus disse: ‘Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque deles é o reino dos Céus’ (Mateus 19.14)

2) Quais são as chances de uma criança chegar à idade adulta e perder a Salvação da alma? Na parábola do Semeador (...) de cada cem pessoas que ouvem a Palavra de Deus, 25 são salvas”

Pergunto: do ponto de vista da fé, estas são as perguntas mais pertinentes a se fazer com relação ao tema “aborto”?

Uma vez que o aborto é a interrupção da vida, não seria mais adequado perguntar: a quem pertence a vida do feto? Ou, quem tem o direito de interromper a vida? Quem tem o direito de decidir quando a vida começa e quando termina?

Além do mais, o fato da criança ter a sua salvação garantida, não faz do aborto um ato de misericórdia. A salvação da criança não muda o fato de o aborto ser um assassinato, nem isenta os pais (e os que consentem) da responsabilidade.

Da mesma forma, o fato de haver grandes chances de a criança perder a sua salvação quando crescer, também não dá direito a ninguém de decidir quando a vida dessa criança deve findar.

Também argumentou o bispo Edir Macedo:

“3) ‘Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele’ (Eclesiastes 6.3). Por que isso está escrito na Bíblia?”

A resposta vem nos seguintes termos: “Enquanto a criança estiver na idade da inocência, estará salva. Mas, ao entrar na idade da razão, perdendo, assim, a inocência, estará na dependência do perdão dos seus pecados e da aceitação de Jesus como seu Senhor e Salvador”.

Vamos deixar claro um princípio aqui. Quando uma criança morre, no que o bispo chamou de “a idade da inocência”, a sua salvação está garantida, não porque ela é justa, mas porque Deus, pela sua Graça e Misericórdia, decidiu que ela fosse salva. Não é o primeiro pecado que faz do homem um pecador, mas é por ser um pecador que o homem comete o primeiro pecado. Nós herdamos de Adão esta natureza pecaminosa e todos carecemos da graça e misericórdia de Deus (tendo ou não executado o primeiro pecado). Logo, não é pela própria justiça que a criança é salva, mas pela Graça divina.

Com relação ao versículo que o bispo citou, é bom salientar que o livro de Eclesiastes trata de uma observação que o autor fez de “tudo o que se faz debaixo do sol”. Esta expressão se repete muitas vezes no decorrer deste livro e nos indica o real sentido em que as passagens devem ser interpretadas.

Em Ec 6:3, por que o autor afirma que um aborto seria mais feliz do que um homem de longa vida que não se fartou do bem? Porque o aborto não teve alegrias nesta vida, mas também não padeceu necessidades e aflições, logo, se um homem viveu longos anos, mas em enfado de aflições, está em pior situação do que um aborto (no que se diz respeito a vida terrena). Por outro lado, qualquer pessoa que vive, mas tem alegria e contentamento está, com certeza, em melhor situação do que um aborto, que foi privado de sua vida terrena.

Portanto, é incoerência usar o texto de Ec 6:3 como argumento pró-aborto. Além disso, o texto trata da situação do feto abortado e não dos que cometem e consentem com o aborto.

Ainda do ponto de vista da fé, o bispo argumenta:

“Como um dos mandamentos da lei divina, ‘não matarás’ trata do direito do ser humano à vida. Não creio que Deus estivesse focando os seres ainda em formação quando proferiu tais palavras. Contudo, isso não significa que a vida de um feto deva ser interrompida indiscriminadamente. Há, porém, situações em que não há outra alternativa (...) O mandamento ‘não matarás’ não se aplica ao aborto de um ser que ainda não está formado. A bíblia considera o feto como uma ‘substância informe’.”

Bem, se o bispo Edir Macedo entende que o mandamento de “não matarás” garante o direito do ser humano à vida, mas ainda assim, não crê que este mandamento se aplica ao feto, então, isso revela que, para ele, o feto não é um ser humano. Essa idéia me lembra as opiniões de alguns cientistas quando debateram a respeito do uso de células tronco embrionárias (uso do qual também sou contrário). Naqueles dias ouvi um cientista dizer que um embrião que não terá chance de se desenvolver, não pode ser considerado um ser humano. Esse argumento me parece, tremendamente, irracional! Ora, um óvulo humano, fecundado por um espermatozóide humano, só pode gerar um ser humano! Nenhuma célula embrionária humana vai gerar um cachorro, ou um peixe, ou uma planta. O ser humano o é, independente de seu estágio de formação.

Infelizmente, isso não parece ser verdade para o bispo Edir Macedo. O que muito me surpreendeu (confesso que me escandalizou, até) foi o fato de o bispo defender que há situações onde o aborto é a única alternativa. A meu ver, a única situação que justificaria tal ato é no caso de alto risco de morte para a mãe. Mas esse pensamento passa longe do que advoga o bispo Edir Macedo. Fazendo mais uma menção inconseqüente da Palavra de Deus, o bispo afirma que a Bíblia trata o feto como uma substância informe, em outras palavras, como algo e não como alguém. Mas o que a Bíblia, realmente, diz a respeito:

O Sl 139:16 diz:

“Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” ARA*

“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia” ACRF*

O texto em referência não trata o feto como uma substância. Este texto é uma declaração do salmista a cerca da onisciência de Deus, que nos conhece ainda antes que o nosso corpo seja formado. Antes que qualquer substância fosse gerada no ventre, o Senhor já nos conhecia! Este é o sentido do texto.

Analisando outros textos podemos notar que para Deus a vida intra-uterina é tão importante quanto a nossa vida.

“Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta” (Jr 1:5) – Jeremias foi chamado por Deus, para ser profeta, antes de ser gerado no ventre de sua mãe.

“Ouvi-me, ilhas, e escutai vós, povos de longe: O SENHOR me chamou desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome” (Is 49:1) – Isaías, dentro do ventre de sua mãe, já era chamado por Deus pelo nome.

“Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lc 1:15) – João Batista foi cheio do Espírito Santo, ainda no ventre de sua mãe.

Mas dentre os textos bíblicos referentes a este assunto, há um que considero muito especial – Ex 21:22-23:

“Se alguns homens pelejarem, e um ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, porém não havendo outro dano, certamente será multado, conforme o que lhe impuser o marido da mulher, e julgarem os juízes. Mas se houver morte, então darás vida por vida” (ARCF)

“Se homens brigarem e ferirem uma mulher grávida, e ela der à luz prematuramente e, não havendo, porém, nenhum dano sério, o ofensor pagará a indenização que o marido daquela mulher exigir, conforme a determinação dos juízes. Mas, se houver danos graves, a pena será vida por vida” (NVI)

Este texto declara que em caso de aborto (interrupção do período normal da gestação), aquele que o causou (ainda que por acidente) deveria ser punido conforme a lei da retaliação: “olho por olho e dente por dente”. Se não houvesse morte, nem do bebê, nem da mãe, o culpado pagaria o que fosse estipulado pelo marido. Mas se ocorresse a morte da esposa, ou do bebê (seja em estágio fetal ou não), o culpado pagaria com a própria vida! “Vida por vida”.

Portanto, a Palavra de Deus trata o feto como um ser humano, como alguém, não, simplesmente, como uma substância informe.

Prosseguindo com a leitura desta infeliz matéria, pude comprovar o que eu só suspeitava quando comecei a lê-la (suspeitava, mas me recusava a acreditar). A declaração seguinte do bispo Edir Macedo, caiu como uma bomba no meu coração! Ele disparou:

“Não sou contra a concepção, por questão de fé. Mas, pela mesma razão, não sou contra o direito que a mulher tem de interromper o desenvolvimento do feto se suas condições não atenderem às necessidades básicas de uma criança”

Desde quando, a falta de recursos dá à mãe direitos sobre a vida do filho? Que tipo de fé é essa professada pelo bispo Edir Macedo que nega a soberania de Deus na decisão da vida ou da morte? Se toda a vida pertence a Deus, que direito tem a mãe sobre a vida do filho? Ninguém tem o direito de privar-se da própria vida, o que dirá da vida do outro! Aquele que atenta contra a própria vida é passível de punição, como não seria o que atenta contra a vida do filho?

O bispo parece ter encontrado a solução para a miséria e para o crescimento desordenado da humanidade! “O que você não puder sustentar, mata!” – Essa parece ser a proposta do bispo. “Você já tem dois filhos e o terceiro não é planejado? Então, aborta!”. Para o bispo Edir Macedo, a pobreza justifica o assassinato! Soluções simples como o a entrega do bebê para a adoção, nem sequer foi cogitada pelo bispo Edir Macedo!

Como se já não fosse o bastante, ele ainda termina sua mensagem com argumentações que são até difíceis de comentar, de tão descabidas:

“É sabido que a promiscuidade é fruto da falta de temor a Deus, mas o aborto não seria um estímulo à sua proliferação? Com ou sem aborto, a promiscuidade continuará a se proliferar cada vez mais aceleradamente por causa da corrupção do gênero humano.”

Embora eu, realmente, acredite que a liberação indiscriminada do aborto, seria sim, um estímulo à promiscuidade, eu não quero entrar nesta questão. Mas o que eu me pergunto diante de tal argumento é: o fato da prática do aborto não estimular o avanço da promiscuidade, faz do aborto algo aconselhável? Porque muitos são promíscuos, o feto pode ser assassinado? A corrupção do gênero humano isenta, os que praticam e consentem com o aborto, da responsabilidade da vida perdida? Claro que não! É certo que nenhum homicida (não arrependido) herdará o reino de Deus (Gl 5:19-21; Tg 2:11; 1jo 3:15; Ap 21:8; Ap 22:15).

O bispo continua:

“Temos ainda que analisar o seguinte: A força da lei impede o aborto?”

Não, não impede! Assim como também não impede os roubos, os estupros, o tráfico de drogas, os homicídios e, no entanto, nada disso deve ser legalizado por isso! E nada disso é menos grave por isso!

Em seguida o bispo argumenta:

“Quem mais ganha com a multiplicação de almas, o Reino de Deus ou o reino de Satanás?” Qual é a probabilidade de um recém-nascido vir a aceitar Jesus como Senhor e Salvador quando crescer?”

Para o bispo, a menor probabilidade de conversão, justifica o assassinato. Mais uma vez ele muda o foco da questão! O aborto é um atentado contra uma vida indefesa e inocente. O feto é a única vítima e, a condição espiritual da vítima, não interfere na gravidade do crime, nem isenta da culpa, os criminosos. E, uma vez que, toda vida é dada por Deus, esta declaração do bispo Edir Macedo faz Deus parecer inconseqüente, já que, segundo ele, a multiplicação de almas favorece o reino de Satanás.

E, finalizando a sua análise do ponto de vista da fé, o bispo Edir Macedo declarou:

“O que é mais pecaminoso, a relação sexual ilícita ou o aborto? De acordo com a bíblia, pecado é pecado, independente de ser considerado pequeno ou grande, pois qual é a diferença entre pecadinho e pecadão, se ambos levam à morte eterna?”
– e assim ele encerra sua argumentação do ponto de vista da fé.

É difícil determinar onde o bispo Edir Macedo quer chegar com esta declaração, já que suas palavras entram em contradição com tudo aquilo que ele vinha argumentando até aqui! Com esta declaração ele acaba de afirmar que o aborto é sim um pecado! E um pecado tão grave quanto a relação sexual ilícita, sendo, portanto, dignos de “morte eterna”! Sendo assim, por que o aborto não se aplica ao mandamento “não matarás”, como argumentou anteriormente? Que tipo de pecado é o aborto, então? Sendo, o aborto, um pecado que leva a morte eterna, que tipo de fé é essa professada pelo bispo Edir Macedo que apóia o aborto por não haver risco de a criança perder a sua salvação, mas que, em contra-partida, ignora a alma da mãe e dos responsáveis, condenado-os ao inferno? Sendo o aborto um pecado que leva à condenação, que circunstância justificaria tal ato? Será que o crescimento desordenado da humanidade, ou a pequena probabilidade de salvação, ou a hipocrisia de alguns no tratar do aborto, ou, ainda, a falta de assistência às crianças carentes, ou o inevitável aumento da promiscuidade humana, são motivos suficientes para que o aborto seja realizado e justificado diante de Deus? Eu acredito que não!

Do ponto de vista emocional, o bispo Edir Macedo apresenta um único questionamento:

“Do ponto de vista emocional, os argumentos contra o aborto são ainda mais fortes, principalmente por parte daqueles que conseguem criar os próprios filhos de forma adequada, isto é, sem deixar faltar-lhes pão, casa, educação e tudo o mais que é necessário ao desenvolvimento saudável de uma criança. É muito confortável, para os que têm condições, ser contra o aborto, sem se importarem com os que passam fome. Deus abençoe a todos.”

Mais uma vez o bispo Edir Macedo deixa claro que, para ele, a pobreza justifica o aborto. E, neste caso, ele alega que, os que advogam contra o aborto, o fazem por falta de empatia com a miséria da sociedade. Mas eu pergunto: é uma atitude racional matar uma criança por não poder criá-la? Será que nossa sociedade (governantes e governados) está tão decadente e falida que não deixa nenhuma alternativa viável às mães que não tem nenhuma condição de criar seus filhos, a ponto de só restar-lhes o aborto? Não sou tão pessimista assim!

E não seria por uma questão fortemente emocional que muitos lutam pela legalização do aborto? Com certeza! As mães que optam por abortar um filho fruto de estupro, não o fazem por não suportar lidar com a lembrança de que aquela criança foi o resultado de um ato de extrema violência? E é razoável que a criança pague pelo crime do pai? Os pais que optam pelo aborto em casos de anencefalia, não o fazem por não conseguirem lidar com a desesperança de vida na previsão médica? Não o fazem por não quererem lidar com a morte prematura da criança? Não o fazem, muitas vezes, para que não se apeguem a criança e venham a sofrer ainda mais depois? Não é também por uma questão emocional, que os que tem uma vida promíscua, optam pelo aborto, por não suportarem assumir as conseqüências de seus próprios pecados?

São muito mais fortes os apelos emocionais dos que defendem o aborto, dos que os que são contra ele. Os que defendem o direito ao aborto, ignoram os direitos que a criança tem à vida e desprezam a verdade de que Deus é o único digno de decidir sobre o tempo de vida de cada ser humano sobre a terra.


Para ler o artigo na íntegra acesse:
http://www.folhauniversal.com.br/integra.jsp?codcanal=9988&cod=136763&edicao=856

Nota: ARA – Almeida Revista e Atualizada; ACRF – Almeida Corrigida e Revisada Fiel.


Para mais posicionamentos da IURD leia também:

14 de agosto de 2008

MPF quer barrar imagens de advertência de cigarro

O Ministério Público Federal (MPF) de Santa Catarina entrou na Justiça contra a União e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) devido à obrigatoriedade de fabricantes de cigarros exibirem imagens de advertência em anúncios e maços.

Para o procurador João Marques Brandão Neto, as imagens atingem o fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana.

“Os cidadãos são aterrorizados pela foto de um cadáver com o crânio rachado ou um feto morto dentro de um cinzeiro”, argumenta o procurador, segundo a Folha Online.

As novas imagens de advertência de produtos com tabado foram apresentadas em maio pelo governo federal.


Fonte: Destak Jornal de 25-07-2008
www.destakjornal.com.br


Nota:
O Sr. João Marques deve ser fumante! O que me aterroriza é saber de milhões de reais são gastos todos os anos na saúde pública, com tratamentos de doenças decorrentes do tabagismo.

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